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Zona Intangible

 

 

Zona Intangible é um termo que conheci em Cusco, no Peru. Fixei casa temporária em uma área que integra os templos sagrados de Sacsayhuaman, onde vi pela primeira vez uma placa com tal escritura. Zona intangible é uma sinalização que, no Brasil, pode ser comparada ao que conhecemos como “área de preservação ambiental”. Entretanto, foi a expressão em espanhol que desencadeou inúmeras sinapses e associações poéticas dentro de mim.

Após pensar um pouco sobre a razão  pela qual me encantava tal expressão, percebi o quanto ela poderia dizer respeito às minhas práticas artísticas. Apesar da plasticidade, meu norte em poéticas visuais costuma ser o intangível. A plasticidade é uma ferramenta, assim como são as palavras e assim como é a existência de um corpo que atravessa a terra a serviço de um espírito. A matéria evidencia elementos sutis das diversas formas de estar e de apreender, não apenas o mundo, mas a própria existência e suas complexas dimensões materiais e imateriais.

Os trabalhos e os textos a seguir dizem respeito às sutilezas que habitam estes entremeios da existência. Em deslocamento, desde Porto Alegre até Cusco, passando por cidades e vilarejos da Argentina e Bolívia, vivi lugares e conheci pessoas, buscando estar em frequente estado de disponibilidade artística. Sem saber, transitei sob as ordens da geopoética que só vim a conhecer meses mais tarde, em Porto Alegre, quando a professora Maria Ivone me introduziu a esses estudos. Rumino aqui os efeitos que uma viagem aparentemente geográfica surtiu sobre mim.

Por consequência desse deslocamento, pelo acaso ou por pré-disposição arbitrária, alguns eventos internos e externos a mim se tornaram parte do meu projeto de graduação. Assim, este estudo parte de tudo que causou em mim emoção, considerando emoção enquanto fenômeno de deslocamento de si. Meu repertório poético transpassa paisagens, fatos, objetos, materiais, animais, pessoas ou memórias, sendo estas últimas construídas ou verídicas, já não sei bem.